A encruzilhada do prefeito
A Prefeitura de Porto Alegre quer mexer no Mercado Público, privatizá-lo ou algo parecido. Desconfio que o empreendedor, que provavelmente já deu as caras, vai shopinizar, como alguém escreveu no jornal Zero Hora, o vetusto e querido espaço. Prefeito Nelson Marchezan, não cometa esse crime. Cobre reformas dos permissionários das bancas, faça com que eles banquem outras obras, como as necessárias no segundo andar, fechado desde o incêndio, mas, pelo amor de Deus, não mexa no espírito desse templo sagrado.
O senhor provavelmente nunca entrou nele antes de ser prefeito, nunca deve ter ido a uma das bancas comprar um queijo especial ou um embutido ou azeite especial, nem mesmo foi buscar um adereço nas bancas que vendem produtos para cultos afro, duvido que tenha comprado peixe ou camarão e até mesmo algum produto nas lojas de produtos naturais, nem nas fruteiras ou comprou erva mate em mistura que o senhor mesmo criou. Nem comprou um vinho ou espumante especial de primeira, nem comprou gibi no sebo, du-vi-de-o.
Portanto, prefeito Marchezan Jr, o senhor não foi picado pela magia que emana do Mercado, que oferece produtos tanto ao trabalhador de salário baixo, que encontra costela a preço bem em conta, quanto o rico que compra jamón espanhol Pata Negra que custa R$ 1 mil reais ou até mais. Melhore, mas não mexa no essencial. É um pedaço da Porto Alegre antiga, uma venda colonial.
E não me leve a mal, mas deixo aqui um aviso. Não é à toa que, aos sábados, o pessoal dos cultos afros vai ao centro do Mercado para cantar e fazer oferendas. É que neste preciso ponto está enterrado um bará que zela pelo Mercado Público e já evitou sua destruição total no último incêndio. É a encruzilhada do bem.
Se mexerem com o espírito do Mercado Público Central, Porto Alegre morre.
Precioso texto
Com tido que estamos vivendo lendo isso. Acredito ainda em esperança