A culpa foi da calcinha
Nos tempos do telefone fixo de disco, o serviço era uma droga na maior parte do tempo. Conversas cruzadas eram comuns, você ouvia sem querer ou sem querer querendo até casais trocando juras de amor e promessas dessa ou daquela posição na cama, não necessariamente nesta ordem. Em empresas, às vezes o sistema PABX ficava sobrecarregado, então durava uma eternidade até conseguir linha. O mais exasperante depois dessa demora toda era o número discado dar sinal de ocupado.
Quando eu era bancário, uma das minhas funções era ligar para quem não pagou seu papagaio. Tinha suas manhas, e, recém-chegado a Porto Alegre, tive como instrutor um sujeito fantástico chamado Dalmir. O cara era um pândego. Quanto não tinha alguém perto para aprontar, aprontava ele mesmo. Era especialista em imitar políticos ou colegas de trabalho. No treinamento, eu ficava ouvindo a conversa com a orelha perto da orelha dele. E aí veio uma linha cruzada daquelas, conversa de namorados.
– Tu me amas?
– De paixão, benhê.
– Tô louquinho pra te ver. Posso ir aí?
– Tá…mas cuidado. Minha mãe marca de cima. Tem que ser no maior respeito.
Foi aí que o Dalmir entrou na conversa imitando perfeitamente a voz do namorado.
– Mas me espera sem calcinha, tá? Nuinha, só aquele vestidinho por cima…
E ficou quieto. Dali em diante, houve um silêncio estupefato do casal.
– Podemos ir para a cozinha, quero passar a mão nessas pernas…
Os dois falaram ao mesmo tempo.
– O quê? Mas que é isso meu bem?
– Mas eu não falei nada, não sei como alguém entrou na conversa.
O cara deve estar dando explicação até hoje.
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