A cobra Catarina
As cidades estão cheias de pessoas que se postam perto de um camelô ou artista que promete um número sensacional, mas nunca o apresenta. Caso dos caras que fazem um falatório anunciando que atravessarão – com o torso nu – um arco cheio de facas pontiagudas, deixando um espaço mínimo para o cara atravessar. Enquanto isso, vendem um peixe qualquer. Na Montenegro dos anos 1950, havia um personagem que anunciava uma cobra, a cobra Catarina. Deixo o relato a seguir para meu amigo e contemporâneo Ernesto Lauer.
Certa feita, apareceu um camelô, com uma grande mala, onde escondia a cobra Catarina. Ele começou a fazer grande propaganda: “A Catarina vai fumar”. O homem era bom de lábia, e começou a juntar gente. Batia na mala para acordar a Catarina e dizia maravilhas da cobra. Com esta conversa, ele distraía a atenção das pessoas. Eu estava por ali olhando e ouvindo. De repente, ele tirou uma caneta do bolso e perguntou:
– Quem me dá um pila pela caneta?
Uma pessoa deu (certamente comparsa) e recebeu uma caneta. Depois de um tempo, ele devolveu o dinheiro, dizendo que não o queria, pois dado de coração. Continuou com a história da cobra… Logo após, apanhou outra caneta e perguntou:
– Quem me dá cinco pilas pela caneta?
Muitos deram e receberam canetas. Pouco tempo depois, ele devolveu o dinheiro para essas pessoas. Na terceira oportunidade, exibiu canetas e pediu 10 pilas. Eu saí correndo e surrupiei o dinheiro no caixa da loja. Entreguei ao camelô e recebi uma caneta. Fiquei esperando ele devolver o dinheiro. Ao invés disso, ele encerrou os trabalhos, agradeceu a todos, apanhou a mala e foi para a rodoviária.
Acabei levando uns “lambaços de cinta”.