A.C – D.C (1 DE 2)
As boates pudicas, semipudicas e devassas têm um marco regulatório bem definido: antes e depois do aparecimento dos celulares e smartphones. Daí o título acima. O auge desses locais de encontro para dançar, azarar ou simplesmente beber e curtir foi até os primeiros anos da década de 1980. Algumas hoje chamaríamos de danceterias, e as melhores eram frequentadas pela grã-finagem real ou aquela metida a besta. E como Porto Alegre era pródiga neste segundo público.
De qualquer forma, gastava-se bem e pendurava-se bem a conta. Conheci donos de boates que nem mesmo corriam atrás dos devedores. Como parte das bebidas destiladas – uísque, a bebida da moda – inevitavelmente era falsificada, os que pagavam cobriam os que não pagavam. Às vezes, vinha assim do “atacado”, às vezes era produção artesanal. Conheci um cara que morava em uma cidade-dormitório perto de Porto Alegre que falsificava um legítimo Joãozinho Caminhante de idade avançada.
Tudo que acontecia nas noites e madrugadas era abafado pela escuridão regada a luz negra ou estroboscópica. Pecados mortais se transformavam em efêmeros vagalumes de pecadilhos menores. Como na época Porto Alegre tinha poucos motéis, e todos ficavam longe, produziram a máxima “se meu Fusca falasse”. Carro não fala e não tinha detetive de grampo a preço razoável para a plebe ignara. Então, na manhã seguinte, um lava-rápido evaporava os rastros leitosos do crime perfeito.
Então veio o progresso.
(Continua amanhã)
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