A bomba calórica

21 set • A Vida como ela foiNenhum comentário em A bomba calórica

Corria intranquila a década de 1970. O terrorismo doméstico explodia cofres de governadores, a guerrilha armada e despreparada se instalava no sertão, bancos eram “expropriados”, bombas matavam sentinelas nos quartéis e  aviões comerciais eram sequestrados.

No início aproavam Cuba, que ficava com a despesa logística de transportar os sequestrados de volta. Fidel Castro e o mano Raúl podiam ser comunistas, mas não rasgavam dinheiro capitalista. E mandaram os sequestradores cantar em outra freguesia. Comigo não, violão.

Por essas e por outras os aeroportos redobraram os cuidados. Os federais colocaram Raio X para detectar armas ou bombas, e detectores de metais viajavam de alto a baixo pelo corpo do pessoal. Pois foi numa dessas vistorias radioativas que surgiu um alarme. Em uma mala, cujo dono não estava à vista, apareceu o contorno de um objeto retangular. É bomba, ouriçaram-se os federais.

A mala foi discretamente transportada levada para um lugar ermo, e os agentes a crivaram de tiros de 9mm. Virou peneira, mas não explodiu. Foram ver de perto e observaram que, dos restos mortais da suposta bomba,  escorria um líquido viscoso cor marrom e com cheiro pronunciado. Um deles tomou coragem e meteu o dedo e o levou à boca.

– É schmier  – falou um federal, um tanto ultrajado.

Pela primeira vez na história, assassinaram um pote de schmier.

Fernando Albrecht é jornalista e atua como editor da página 3 do Jornal do Comércio. Foi comentarista do Jornal Gente, da Rádio Band, editor da página 3 da Zero Hora, repórter policial, editor de economia, editor de Nacional, pauteiro, produtor do primeiro programa de agropecuária da televisão brasileira, o Campo e Lavoura, e do pioneiro no Sul de programa sobre o mercado acionário, o Pregão, na TV Gaúcha, além de incursões na área executiva e publicitário.

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