A blitz do cavalo
Há tempos, os policiais rodoviários abordaram na RS-240, bairro Scharlau, um jovem mal vestido montando um cavalo crioulo “encilhado, de bonito porte, galopando ao longo da rodovia”, segundo a nota oficial. Ele confessou que roubou a animália.
Então fiquei imaginando uma cena hipotética. A viatura chega e manda a dupla para o acostamento.
– Documentos.
– Do cavalo ou os meus?
– Dos dois. Quero ver o certificado de propriedade do cavalo.
– Bueno, do cavalo não tenho, comprei há pouco, não deu tempo de fazer o registro. Os meus tão aqui.
O policial dá uma volta ao redor do animal.
– Os quatro pneus, aliás as ferraduras, estão carecas. Pisa no freio.
O cavaleiro puxa as rédeas. O policial levanta o rabo do bicho, que dá um pum muito fedorento bem na cara da autoridade.
– Tem catalisador de carro francês, fede pra caramba, mas a descarga tá aberta. Não tem luz de freio, e cadê as placas? E o pisca alerta?
Olha por cima do lombo do equino.
– Tá podendo, hein? Tem até banco de couro. Cadê o extintor?
O jovem diz que tem sim, mas se engana e puxa uma garrafa de canha. O policial saca um bafômetro.
– Alto lá! – defende-se o larápio. – Ninguém é obrigado a produzir provas contra si mesmo!
– Mas não vale pro cavalo, meu! Manda o matungo assoprar no canudo.
Em vez de assoprar, o animal come o canudo.
– Teje preso, ocultação de provas!
– Mas seu guarda….
– Balada segura, lei seca é lei seca, azar o teu.
Então ele chama a viatura.
– Recolhe.
O cavalo dá uma bela de uma relinchada. O PM entende isso como deboche.
– Recolhe os dois.
Vem o caminhão guincho. O motorista coça a cabeça.
– E levo o cavalo pra onde?
O policial coça a cabeça.