A agonia do meu grande amor

22 jun • A Vida como ela foiNenhum comentário em A agonia do meu grande amor

Está terminando. Os médicos dizem que um tratamento mais caro poderia prolongar sua vida por mais alguns anos, mas que o cruel destino foi traçado. Já ouvimos segundas e terceiras opiniões. Todos confirmam que, no máximo, poderá haver sobrevida, mas respirando por aparelhos. Seu antigo esplendor se foi. Não pela idade, porque plásticas estão aí para isso mesmo, mas pela substituição dos seus amores por outros.

Sentado na beira da sua cama, fiquei com remorso por ter traído meu grande amor algumas vezes. Verdade que sempre voltava para seus braços. Não só me perdoava, como me dizia o quanto eu era amado. Nas madrugadas, fico aflito, imaginando por quanto tempo meu grande amor ainda viverá, e com uma vida decente, respeitada e amada. A decadência, ó a decadência.

E com metástase, ainda por cima. Que destino cruel. Não sei quanto tempo meu grande amor ainda terá. Estou na cabeceira do seu último leito e dela não saio. É uma vigília permanente. Devo isso para quem tanto me amou.

Sim, o jornal impresso sempre foi meu único grande amor. Traições repetidas com a televisão, o rádio e até com agências de publicidade foram menos por amor e mais por dinheiro. Era apenas sexo, digamos assim. E a concorrência digital não chega aos seus pés. A palavra impressa fica, o resto desaparece como fumaça ao ligar do ventilador.

Fernando Albrecht é jornalista e atua como editor da página 3 do Jornal do Comércio. Foi comentarista do Jornal Gente, da Rádio Band, editor da página 3 da Zero Hora, repórter policial, editor de economia, editor de Nacional, pauteiro, produtor do primeiro programa de agropecuária da televisão brasileira, o Campo e Lavoura, e do pioneiro no Sul de programa sobre o mercado acionário, o Pregão, na TV Gaúcha, além de incursões na área executiva e publicitário.

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