Grevismos
Era tempo de grevismo, de esquerdismo e de petismo. Por isso mesmo, era tempo de monótonos chavões e mantras ideologizados. Começou com resgate da cidadania e outros resgates como se sequestros fossem. Mas ninguém era mais assíduo em greves e protestos quanto “a nível de”. Não só a esquerda a jogava da boca para fora, mas o mundo corporativo dela se apropriou, como se de Milton Friedman fosse. Logo ele, o pai do neoliberalismo. Entrevistas coletivas de executivos começavam sempre com “a nível de”.
Pois foi nessa época que meu amigo Gil Villeroy passou pela expressão. No térreo do seu prédio, havia uma agência bancária, e a tropa sindical conclamou colegas para aderir à greve. Os oradores se revezavam ao som de pelo menos uma dúzia de “a nível de”.
Algum tempo depois e sem saber do infausto fechamento da agência, Gil desceu do seu apartamento para fazer uma operação. Surpreso, perguntou ao vigilante o que se passava. O homem se empertigou todo e foi à fala.
– É que o pessoal está a nível de greve!