• O naufrágio do restaurante (final)

    Publicado por: • 17 fev • Publicado em: A Vida como ela foi

    Restaurado após o incêndio de 1973, surgiu um problema oposto no Restaurante Dona Maria: passou a enfrentar alagamentos a cada chuva mais forte, coisa de uns 20 centímetros de água, um horror. A água vinha da Rua da Praia e só sossegava na rua José Montaury, Centro. Quando isso acontecia, um fleumático Ernesto não saía da mesa, só pedia um engradado vazio de cerveja e nele botava os pés. Ali ficava como se um Buda austríaco fosse. Certa noite, veio um toró dos diabos. Minutos depois a casa quase boiava, a maioria dos clientes se mandou. E seu Ernesto e eu sentados sem dar pelota para o dilúvio, comendo salsicha bock e queijo Port Salut.

    Sempre que conversava, o austríaco Moser pegava um palito e batia nele com o paliteiro, à guisa de martelo. Foi então que ouvimos um barulho esquisito vindo do fundo, um chap-chap-chap de alguém caminhando com água pelos tornozelos, quase aquaplanando. Era o médico. Veio direto em cima do Moser e então falou com carregado sotaque nordestino.

    – Aí, seu Ernesto, quer dizer que depois de pegar fogo, a casa agora vai a pique?

    Dito isso voltou para a sua mesa e para seu harém, fazendo chap-chap-chap de novo. Silêncio.

    Pois depois de ouvir essa, o palito só não ficou cravado na mesa de madeira porque quebrou antes.

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  • Cadê a loja que estava aqui?

    Publicado por: • 17 fev • Publicado em: Caso do Dia, Notas

    O comércio eletrônico cresceu cerca de 16% em 2019 e gerou mais de 718 mil novos empregos nos últimos anos. De acordo com levantamento da Loja Integrada – plataforma para criação de lojas virtuais mais popular do Brasil, com 1 milhão de lojas – 40% dos brasileiros que abriram uma loja virtual nos últimos dois anos eram funcionários CLTs que deixaram seus empregos para empreender pela internet. A plataforma recebe em média 600 novas lojas todos os dias.

    Imagem: Freepik

    SUMIU, MAS NÃO SUMIU

    A velocidade com que as novas tecnologias são abraçadas pelos empreendedores em todas as atividades econômicas é diretamente proporcional ao número de empregos que se perdem. Fosse só isso, seria um tiro no pé, mas não. Empregos perdidos geram empregos novos. A questão é saber se as lacunas são todas preenchidas por novas profissões ou dá para ter o pesadelo de desemprego.

    PRINCÍPIO DA INCERTEZA

    Formulado pelo alemão Werner Heisenberg, diz que podemos medir a velocidade e a posição de determinada partícula física, mas nunca os dois ao mesmo tempo. Cristalino como água da fonte. Substitua “partícula física” por um carro na rodovia caso tenha dúvida. Pois o princípio do alemão pode ser aplicado – mais ou menos – aos tempos atuais na questão do emprego versus novas tecnologias. Podemos contar o número de empregos perdidos e os que foram criados, mas não dá para medir a velocidade do processo ao mesmo tempo.

    Seja como for, só o nome do princípio é um retrato do mundo atual.

    NAS ASAS DOS DC-3

    O governo Bolsonaro prepara decreto que vai zerar o PÌS e Confins dos combustíveis de aviação. Considerando que combustível representa entre 35% a 40% dos custos de operação de uma aeronave e que boa parte são impostos, talvez dê para sonhar na volta da aviação regional, que hoje só pode ser viável com todos ou quase todos os assentos vendidos. No pós-guerra, quando os DC-3 usados pelos americanos foram distribuídos quase de graça para países como o Brasil, as várias companhias aéreas voavam até para cidades pequenas e com voos diários.

    O MILAGRE DOS ASSENTOS

    Empresas como a Varig cresceram a olhos vistos nas décadas de 1940 e 1950 por um bom motivo. Pegue-se o caso do DC-3. Com 28 assentos, os voos estavam sempre lotados, mas não na acepção literal da palavra. Se fossem apenas quatro passageiros, o governo federal bancava os outros 24. Ou seja, voos lotados em 100%.

    No Rio Grande do Sul, mesmo sendo em cidades pequenas, os voos chegavam a ser diários e não raro duas vezes por dia. Caso de Santiago, São Gabriel e Alegrete, para ficar só nesses, abrigavam grande número de quartéis, portanto com grande movimentação de militares e seus parentes. Por si só a demanda era pífia, mas com subsídios tudo mudava.

    O MILAGRE DO IMPOSTO DE RENDA

    Até meados dos anos 1960, jornalista não pagava Imposto de Renda e pagava só metade do preço das passagens aéreas. A brincadeira terminou por volta de 1965. Jornalista tinha outras regalias. No início dos anos 1960, podiam comprar carros nacionais a custo quase zero dentro de uma determinada quota. Aqui no Rio Grande do Sul pelo menos uma dúzia de jornalistas ganhou um flamante DKW. A história me foi contada por um dos beneficiados, Jaime Keunecke, o JK, já falecido.

    Mas Deus castiga, como diz o brocardo. Por isso jornalista ganha mal.

    PENSAMENTO DO DIAS

    Leva-se cada vez menos tempo para atravessar o Oceano Atlântico e mais tempo para chegar em casa.

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  • Medicina do futuro

    Publicado por: • 16 fev • Publicado em: Caso do Dia

    Estar preparado para a Medicina do futuro é um desafio cada vez maior para os profissionais. Inteligência artificial, mapeamento e terapias genéticas, procedimentos menos invasivos e mais resolutivos são realidade e demandam capacitação imediata dos médicos. Cirurgia robótica com médicos e pacientes separados por quilômetros de distância e telementoria para cirurgiões em curva de aprendizado começam a aparecer no horizonte.

    NO HOSPITAL Moinhos de Vento, onde a robótica vem sendo utilizada em uma grande variedade de procedimentos urológicos, tanto para tratamento do câncer como para doenças benignas, os números são animadores. O mais frequentemente realizado é a cirurgia para câncer de próstata. Em 93% dos casos, o câncer foi extraído completamente. Nas 24 horas após a retirada da sonda vesical, 70% dos pacientes retomaram o controle urinário e 94% deles voltaram a ter continência em 3 meses. A taxa de recuperação das ereções neste período chegou a 82%.

    Com mais de 3 mil casos operados, esses índices colocam a equipe médica da instituição entre as que possuem os melhores resultados da América Latina. Agora, essa expertise será compartilhada. O Núcleo de Medicina Robótica do Hospital Moinhos de Vento está trazendo professores renomados nacional e internacionalmente para, junto com esse time, formar mais cirurgiões e urologistas especializados na técnica. O Curso de Cirurgia Robótica Urológica está com as inscrições abertas.

    CLARO lidera pesquisa de satisfação da Anatel em todos os serviços avaliados. A pesquisa ouviu mais de 89 mil consumidores, em todos os Estados do país, em painel conduzido pelo Ibope e Anatel, entre julho e novembro/2019. A operadora desponta com as melhores avaliações entre todas as operadoras nos serviços móveis, do pré ao pós. No segmento residencial obteve as melhores notas em TV paga, banda larga e fone fixo, entre as operadoras com abrangência nacional.

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  • Rotas

    Publicado por: • 15 fev • Publicado em: Caso do Dia

    GOVERNADOR Eduardo Leite fez, nesta sexta-feira (14/2), a primeira reunião após a aquisição pela Azul Linhas Aéreas Brasileiras da companhia TwoFlex, anunciada há um mês, com representantes das duas empresas. Tanto o governo como as companhias garantiram esforço em manter as rotas regionais já em operação e iniciaram negociações para que os destinos sejam ampliados.

    Atualmente, a Azul mantém seis rotas no interior do Estado, enquanto outras oito são operadas pela Gol Linhas Aéreas em parceria com a TwoFlex. Com a mudança de administração da empresa regional, a Azul e a TwoFlex ficarão com 12 rotas. O processo de venda deve ser concluído, segundo o diretor de Relações Institucionais da Azul, Marcelo Bento, até julho deste ano.

    DEPOIS de ter seu nome aprovado por unanimidade na Comissão de Relações Exteriores do Senado, na quinta-feira, para ocupar o cargo de futuro embaixador do Brasil nos Estados Unidos, o diplomata gaúcho Nestor Forster esteve na Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul (FIERGS).

    Foi a primeira entidade empresarial do País que Forster visitou depois de passar pela sabatina dos senadores. Ele foi recebido pelo vice-presidente da FIERGS, Cezar Luiz Müller. Forster afirmou que o objetivo é ouvir o que a indústria tem a sugerir, seus gargalos e pontos de estrangulamento para o mercado americano, para que governo e setor privado possam trabalhar em conjunto na remoção de barreiras.

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  • Naufrágio do restaurante (parte I)

    Publicado por: • 14 fev • Publicado em: A Vida como ela foi

    Todos o conheciam no falecido restaurante Dona Maria, mas só de vista. Todos sabiam que ele era médico, mas só de ouvir falar. Todos sabiam que ele já tinha passado dos 60 porque estava na cara. E todos sabiam que ele ia jantar sempre com duas garotas muito bonitas e bem jovens porque dava inveja. E todos sabiam que ele era nordestino porque os garçons identificaram o sotaque.

    Careca acima do peso, aparência de quem foi e ainda era, quem sabe, um ninja dos lençóis. O trio sentava sempre na mesa do canto logo após a entrada. Era uma sábia logística, sem dúvida. Quando se entra num ambiente público não se olha para os cantos escondidos logo após a entrada. Elas só tinham olhos para o bom doutor. Seis mãos se entredevoravam com pudicícia acima e, sem ela, debaixo da mesa, segundo o garçom Adão, o Longevo.

    Nesta quadra da vida, as conquistas amorosas costumam sair da pessoa física para a jurídica – Nelson Rodrigues já dizia que o dinheiro compra até amor verdadeiro. O fauno vestia sempre um terno bem cortado, usava perfume caro e discreto, um reluzente Rolex no pulso.

    Na outra ponta do restaurante, perto do caixa, sentava sempre o dono, o austríaco Ernesto Moser. O restaurante foi severamente danificado por um incêndio por volta de 1973, mas tal como Fênix deu a volta por riba.

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