A dor do chifre
O crocodilo saiu do rio e foi tomar banho de sol nas margens para recarregar a bateria, como todos os sáurios fazem há 640 milhões de anos. Não se deu conta que um rinoceronte enfurecido por uma dor no chifre estava disposto a descarregar em alguém. Segundos antes de ser espetado pelo chifre, o crocodilo abriu o bocão.
– Alto lá, meu amigo! Antes de me matar preciso dizer que tenho uma enorme pena pela tua condição.
O rino estacou.
– E que condição seria essa?
– O chifre. Só tens um chifre. Todos os nossos colegas com esse apêndice tem dois, os elefantes marinhos, os gnus, os búfalos, até mesmo as girafas tem duas guampinhas na cabeça. Que azar o teu, hein? Reluto em te dizer, mas és uma obra imperfeita da natureza. Portanto, és um ser inferior. Então arreda daí e deixa eu tomar meu banho de sol 220 volts.
A medida que o crocodilo falava, o rino começou a perceber que ele tinha razão, e começou a entrar em depressão, agravada pela terrível dor de chifre que sentia. Amargurado com sua condição, perdeu a vontade de expulsar o crocodilo e já ia embora quando parou de chofre. Voltou e com uma só chifrada o levantou e, na descida, espetou seu chifre na barriga mole do croc. Agonizante, ouviu as palavras do seu carrasco.
– Ser inferior bosta nenhuma! Se eu tivesse dois chifres estaria com dor em dois e não em um só, sua matéria-prima de bolsa de ser humano, eu sou um animal superior!
Pouco antes do último suspiro, o lagartão disse suas últimas palavras.
– Se tu fosses um animal superior, não terias nenhum chifre pra doer, idiota!