A dança da borda
Todo santo dia, ouço alguém dizer que o jornal impresso está com os dias contados. Não por enquanto, asseguro. Quando a geração Y e o resto do fim do alfabeto dominar o mundo, pode ser, e como eles não leem quase nada, teremos um mundo regido e regrado pelos 140 toques do twiter. Para eles, 140 toques equivale à toda Enciclopédia Britânica. Não quero estar nesse mundo e, graças a Deus, não estarei.
Quanto ao fim do impresso, da certidão de nascimento à escritura e passando por múltiplas manifestações da vida cultural e burocrática, du-vi-de-o que aconteça tão breve. Há um problema que poucos se dão conta. A letra impressa, por exemplo o A, tem bordas bem definidas quando calcadas no papel; já a mesma letra A que você lê nesse preciso momento não tem borda definida, há uma zona cinza entre a tela e a letra.
Resulta que o olho humano vai à procura do fim da fronteira da letra, a tal borda, mas não a acha porque não há nada além. Então o olho vai e volta milhares de vezes, o que acaba cansando a vista, como se diz. Por isso é que cansamos mais lendo a tela do que o impresso.
Ademais, o que os ípsilones lerão não tem cheiro de livro. Mas isso é coisa que eles jamais entenderão.