Memórias de um tiroteio
Outro personagem importante do jornalismo gaúcho que está com exposição é o fotógrafo Leonid Streliaev, o Uda. Trabalhamos juntos na reportagem policiai na velha Zero Hora, da rua Sete de Setembro. Passamos poucas e boas. Certa vez, em 1969, fomos cobrir um caso estranho em uma residência no bairro Jardim Botânico. Era coisa de 21h. O filho de um colecionador de armas surtou e se trancou no quarto. Exasperado, o pai mandou que ele saísse. Em resposta, o filho atirou com uma espingarda calibre 12 no velho. Metade da porta desapareceu, conferi depois.
A essa altura o rapaz abriu uma fresta na janela e começou a disparar a esmo. Veio a Polícia Civil e a Brigada. Havia um gramado entre a casa e o muro externo. O Uda corria ao longo do muro tentando obter um bom ângulo. Gritei para ele ter cuidado, afinal, o muro era baixo e ele com aquele tamanhão todo, mais a vasta cabeleira loira esvoaçando contra o fundo da escuridão, era um alvo perfeito. Não deu outra. O rapaz atirou com os dois canos quase ao mesmo tempo. Eu tive a impressão que vi um tufo da melena dele voando, mas o Uda jurou que não era dele. Assim como surtou, o rapaz dessurtou, digamos assim, e tudo acabou bem. Mas até hoje acho que o tufo voador era do cabelo do Uda.