A primeira vez
Todo mundo tem seu pé na jaca e enfia o pé nela sem dó. Todo mundo gosta de alguma comida esquisita que come só quando ninguém vê. Quando ele confessa publicamente alguma perversão gastronômica, fica surpreso ao saber que ele não é o único a gostar de massa com feijão. Como quero me despir de todos os meus pecados, confesso que gosto de massa com…desculpem, ainda não posso revelar. Seria um choque para meus leitores e amigos.
A maioria do pé na jaca vem da infância. E agora vou entrar numa mutação genética da jaca, o gosto por um determinado lugar ou destino brega, digamos assim. Meu caso: eu tenho um apartamento em Tramandaí e dali não saio e ninguém me tira. Amigos ficam chocados, porque não em praia mais seleta, as praias maravilhosas de Santa Catarina por exemplo? Neste caso digo não, porque as praias de lá são exclusividade da esquerda gaúcha. E o trânsito em Capão congestiona no inverno, masoquistas.
O caso é outro. Vi o mar pela primeira vez em Tramandaí. Tomei banho nas lagoinhas entre as dunas pela primeira vez em Tramandaí. Os primeiros sonhos comi em Tramandaí. O primeiro cheiro de maresia quilômetros antes de chegar na cidade, o cheiro dos trabalhos em vime e junco (ouviu, seu Prust?), o primeiro sorvete italiano, a casquinha do horripilante siri, as primeiras brigas de travesseiros com os primos, toda primeira vez foi em Tramandaí. Tudo isso está guardado em um dos quartos de honra da minha cabeça.
Então irei lá para sempre. Todos temos que ter um fio terra, não é mesmo?
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