Governo em pauta
Manchete onipresente: governo. Não conseguimos sair dessa espiral. Se os governos não têm assunto para se falar neles, nós da imprensa escrita, falada e televisionada criamos um. Assim como existem os dependentes químicos, nós somos dependentes governamentais. A vida real, como ela é, não faz mais efeito. A droga governo nunca falta. Os traficantes, as agências de notícias, nos abastecem 24 horas por dia. E na falta de coisa mais pesada, recorremos às abobrinhas. Tipo canabis.
Tanto é que as manchetes de todos os jornais costumam ser as mesmas quando o assunto é governo. Um copia o outro. Temos o tráfico caseiro também, as redações. Não tem bagulho bom no mercado? Então vai buscar nos palácio dos governos, sempre tem uma meleca. Assim como existe a cracolândia, tem a governolândia.
É de dar pena ver jovens repórteres recém-saídos dos cueiros, olhos injetados, trêmulos estendendo a caneta pedindo “pelo amor de Deus, me dá pelo menos uma troca de secretário”. Só muda quando acontece uma tragédia e mesmo assim tem um porém. Quando acontece uma, quem nós culpamos: o governo.
Não tem jeito. Precisamos de um rigoroso tratamento de desintoxicação. E mesmo assim, sujeitos a recaídas. Da maneira como a carruagem sacoleja nessa estrada pedregosa, também estou me tornando um depedente dos dependentes governamentais. Mas tratamentos existem. Primeira coisa para sair do vício é reconhecê-lo. Às vezes, faço uma imersão naquilo que é a melhor coisa para evitar síndrome de abstinência de governo: assisto à TV japonesa. Não entendo lhufas dessa língua, então, para mim, japonês é grego.
Ótima para quem tem insônia.