O sumiço do governo
Atendi a um amável convite para jantar do cônsul da Espanha, José Pablo Alzina, que reuniu um petit comité na sua bela residência. A conversa que rolou foi, para mim, uma das melhores dos últimos anos. Entre as dez pessoas estava o bem-humorado e perspicaz rabino Abraham Deleon-Cohen, de Miami, sobre quem falarei mais adiante. Também conhecedor da política brasileira, Alzina nos deu um belo panorama sobre seu país e a Europa. Há algo notável acontecendo por lá, disse.
Como é sabido, uma crise impede há tempos a formação de um novo governo espanhol. Há outros países na mesma situação, como a Bélgica, ou em imbróglios assemelhados. No entanto, a vida e a economia seguem seu curso como se nada estivesse acontecendo de anormal. Com uma certa perplexidade, há um entendimento que o governo não faz falta. Com sociedades estáveis e com necessidades primárias atendidas, dá para entender.
Pensei no Brasil. Quando se avizinhava a possibilidade de Lula ser denunciado e Dilma ter boas chances de sofrer impeachment, a crença comum era que multidões enfurecidas iriam às ruas. Temia-se o pior. Tirando os quebradores de coisas alheias, o povo propriamente dito ficou em casa. E sem estar enfurecido, até porque queria ver os dois pelas costas. Isso causou e ainda causa perplexidade na esquerda. O povão não estava nem aí. A diferença é que aqui a economia depende demais do governo.
O rabino? Ele me provou que 1 + 1 não é 2, que é 3. Veja abaixo no NOTAS.