O pianista
Como em todo ano eleitoral, sempre aparece alguém querendo proibir a divulgação de pesquisas, que é mais ou menos como tentar armazenar água em uma peneira. Ainda mais com a internet dando sopa. Pois em anos passados, elas foram proibidas, e o engenho humano conseguia driblar a dura lex. Foi em meados dos anos 1980, que a Justiça Eleitoral baixou essa norma, na eleição para governador do RS.
Na reta final da campanha um instituto, acho que o Gallup, fez um trabalho que mostrava inversão de posições dos líderes. Eu fazia o Informe Especial da Zero Hora. Meus dedos coçaram mais que xerife à beira de um duelo com o bandido. O Lauro Schirmer chamou eu e o Danilo Ucha. Qual a saída?
– Eu arriscava – falou o Ucha. – Não ficou bem claro qual a penalidade.
O Lauro olhou para mim.
– Posso fazer uma metáfora, dessas que não se dá nomes mas fica claro do que se trata. E até com os percentuais.
Veio o sinal verde. Descrevi uma corrida com retrato falado dos candidatos e os tempos de cada um tipo “o baixinho fez em 36 segundos, o barrigudo em 32 segundos” e assim por diante. E o Ucha resolveu arriscar. Pior, como a casa não queria assumir, o Danilo teria que assinar a matéria – aliás, a pesquisa. E assim foi feito.
A minha nota irritou os juízes, mas não tinha como provar; a pesquisa assinada pelo santanense rendeu-lhe um visita à Polícia Federal, onde tocou piano nas almofada de tinta das digitais. O jurista Paulo Brossard o defendeu, mas era missão impossível – ele teve que tocar piano na almofada que se usa para tirar as impressões digitais.