Velhote arruaceiro
O velho Eugênio era daqueles que perdia o amigo mas não perdia a piada. A bem da verdade, era um velhote arruaceiro. Quando se apertava de grana, vendia cortes de tecidos que conseguia em consignação de uma conhecida loja de tecidos.
Certa noite, entrou numa roda de amigos, no Restaurante Dona Maria, e ofereceu seu produto para um jornalista: um pano chamado pele de camelo. Disse que conhecia bem o dono da loja.
– É importado, coisa muito fina.
O outro resolveu comprar. Começou a preencher o cheque quando viu um sorriso debochado no outro. Desconfiou. Aí tem coisa, pensou. E como era daqueles que botava suspensório em cobra correndo e sentia a maldade de longe, colocou a quantia certa em números mas errou propositalmente o valor por extenso.
– Não esquece de botar teu telefone no verso, porque tu é daqueles que passa cheque sem fundo.
Aí já era desaforo. Colocou um número nas costas. O Eugênio olhou ligeiramente o documento. Já na porta, gritou lá de longe.
– Que importado que nada! Só tu pra comprar uma peça dessas sem conhecer tecido. É produto nacional mesmo!
Todos riram do otário. No outro dia, o velhote entrou furioso no Dona Maria à procura do comprador, que, convenientemente, não estava presente. Se estivesse, cena de sangue na avenida São João. Aconteceu que o velhote não conseguira descontar o cheque no caixa, porque estava mal preenchido. Fulo da vida, ligou para o telefone constante no verso e tão logo alguém atendeu já foi enchendo o cara de osso. Era de filha da puta para cima. Só que o número do telefone era do seu Rafael. Que vinha a ser o dono da loja que havia entregue o corte em consignação.