A carruagem do inglês
João Havelange morreu aos 100 anos, pouco menos que seu amigo Roberto Marinho. A primeira conclusão que se tira é que nadar torna as pessoas longevas. Havelange foi campeão de nado e Roberto Marinho mergulhou até os 90 anos, por aí. Contam que, certa vez, o fundador da Globo reuniu seus diretores para traçar novas metas para a rede.
– Se um dia eu vier a morrer…
Então explicou o que eles deveriam, just in case. De outra vez, sabendo do seu amor pelos mergulhos, deram a ele uma tartaruga. Ele recusou.
– Não é bom, a gente se afeiçoa a esses bichinhos e quando eles morrem a gente sofre muito.
Lembro de uma entrevista de Havelange, já bem depois dos 90, aparentemente firme e forte como a rocha de Gibraltar. Ele e Marinho sempre me faziam lembrar a história da carruagem do inglês. No século XIV, no reino onde o sol nunca se punha da Rainha Victória, as carruagens eram fabricadas com tal esmero que duravam 100 anos. Os britânicos brincavam dizendo que, assim que elas atingissem essa marca, esfarelavam-se como os vampiros recebendo o sol nos filmes de terror.
A mim sempre me pareceu que eles morreriam assim. Sem transição.