Restos de fé
Sete ladrões arrombaram uma igreja situada ao sul de Lima, Peru, imobilizaram o vigia e pilharam o templo. Levaram tudo, cálices, castiças, paramentos e dois cibórios com hóstias consagradas. Dois dias depois, os ladrões devolveram as hóstias à paróquia, o que levou o padre a dizer que eles tinham “restos de fé”. Para dizer a verdade, eu acho que o padre foi muito indulgente com o sacripantas. Eles teriam restos de fé se devolvessem a tralha toda e não apenas as hóstias.
Mas cada um, cada um. Faz anos que gastei todos os meus restos de fé – na humanidade, para ser preciso, não na Santa Madre. Se o ser humano fosse uma máquina ou um carro teria sofrido uma sucessão de recalls desde o início. Então meus restos viraram restinhos, depois moléculas, depois átomos de fé e da última vez que usei o espectrômetro de massa não achei nem um mísera partícula subatômica.
De alguns anos só tenho exercido um tipo de fé e mesmo assim em termos, a dos caminhoneiros: fé em Deus e pé na tábua.