Os frios nossos de cada inverno
Frio mesmo eu senti em 1965, quando caiu neve em parte do Rio Grande do Sul. E neve de verdade, não aqueles floquinhos que parecem nanoestilhaços de algodão doce registrados em meados dos anos 1980 em Porto Alegre. Aquilo era neve de molhar bobo.
Há registros de um metro de neve nos Campos de Cima da Serra, em cidades do Vale do Taquari, entre outras regiões. Nesta época eu tinha me brevetado no Aeroclube de Montenegro, e mostrava com mal disfarçado orgulho minha licença de Piloto Privado. Pois no auge do frio voei para Caxias do Sul com o velhote PP-GCC, modelo CAP4 que chamávamos de pandorga motorizada. Sem calefação, entrava ar gelado por tudo quanto era canto da cabine. Com o vento, a sensação térmica devia estar -10 graus.
Quando sobrevoei Feliz aconteceu um fenômeno relativamente comum, a inversão térmica, aquela coisa de ar quente subir, em conjunto com outras circunstância. Rapaz, sair de 10 negativos para, sei lá, 27 ou 28 positivos num piscar de olhos é algo. Em compensação, assim que saí dessa camada voltei ao abaixo de zero em segundos. Garanto para vocês que dói pra caramba. E em Caxias foi pior ainda, porque tinha que amarrar o avião por causa do vento forte.
Quero dizer que há frios e frios. Esses, nunca esquecerei.