Flamenco alemão
O D. era uma joia de pessoa com alguns pendores para passar a perna em madames vaidosas e homens que compram até títulos de nobreza tão falsos quanto uma nota de trinta reais. Ele e um parceiro de malandragem criaram um prêmio que nunca alguém ouviu falar, sabiamente divulgado em algumas colunas sociais. Os premiados não precisavam pagar nada, mas tinham que marchar com oito convites, claro. Em nome de uma antiga amizade, D. pediu que eu fosse. Só uns 20 minutinhos, garantiu, são 18 contemplados. Como sou a favor de golpistas que golpeiam damas e cavalheiros de nariz empinado, mas principalmente porque não sei dizer não, acedi.
Noite da grande festa. D. anunciou a festa, falou aquelas besteiras de sempre sobre suprema honraria blá blá blá. A dinheiro de hoje, 200 pilas por convite R$ 1,6 mil por mesa. Para minha surpresa, lotou.
O show: dançarinas “flamencas”, alemoas da colônia, gringas, polacas, duas baianas, mas nenhuma espanhola. As castanholas eram virtuais, juro por Deus. O matraquear era play back.
Passou o tempo e comecei a achar que já eram mais de 18, bem mais. Chamei o D. e falei que ia embora. Como 18 viraram, sei lá, 22?
– Simples, meu chapa. Sempre tem um convidado de premiado que pergunta como se pode ganhar uma honraria dessas. Explico que alguns convidados não puderam vir, então com pesar posso ceder um troféu a contragosto, cobrando apenas o preço de custo.
– Maravilha. E quanto o otário paga?
D. foi chamado para entregar mais um troféu para alguém que chegou atrasado – os 18 tinham virado 24 – mas antes falou no meu ouvido.
– Cinco mil. Vendi todo o estoque.