Androcles e o leão que gostava de lambidas
Estava o leão todo faceiro caminhando pela jangal no tempo da Roma antiga quando uma das patas começou a doer. Sem saber o que havia acontecido – ou vocês já viram leão olhar a planta da pata? – encerrou o expediente e foi para seu Meu Covil, Minha Vida. Para sua surpresa, deparou-se com um escravo cristão fugitivo tremendo de medo. Chamo-me Androcles, disse ele. Com muita dor, o felino nem quis devorá-lo.
Ocorre que o humano tinha curso de enfermagem à distância. Gentilmente, examinou a pata ferida e viu nela um enorme espinho. O escravo o extraiu, usou a água de juba que o leão usava para se barbear para desinfetar o ferimento, fez uma bandagem com folha de bananeira e rezou, porque, se não desse certo, seria comido.
Deu certo. Na manhã seguinte, o ferimento sarou, a dor desapareceu. Agradecido, o bichano lambeu várias vezes a face de Androcles, que virou a cara meio com nojo.
– Eu hein? – falou o escravo.
O leão o lambeu de novo.
– Eu, hein? –repetiu o abusado cristão.
O bichano olhou nos olhos do seu benfeitor por alguns instantes. Em seguida se mandou. Anos depois, o escravo foi pego pela polícia federal de Calígula e jogado na masmorra para ser jogado às feras. Segundo o Dataroma, 99% apoiavam sua execução. Os 1% restantes eram veganos.
Assim que Androcles foi jogado naquele areião, um majestoso leão foi direto ao seu almoço. Para surpresa da plebe ignara, o bichano reconheceu seu enfermeiro. Todos saudavam aquele milagre e apontavam os polegares para cima. Que o prisioneiro viva, gritavam.
Ao ver que o felino o pouparia, foi a vez do prisioneiro lamber o leão. O povaréu não entendeu. Umas oito ou dez lambidas depois, o leão rugiu uma frase.
– Eu, hein?
Em seguida comeu Androcles e espalitou as presas com o resto de uma costela.