A Nega, parte 2
No episódio anterior, comentei um caso envolvendo a Nega, já falecida, que Deus a tenha. Fez de tudo de ruim na vida, começando pelo tráfico de drogas. Mas depois se recuperou, deixou de tudo e deu a volta por cima e casou com um carroceiro chamado Jesus. Certo dia, almocei com ela no Centro, no Atelier das Massas, garimpando histórias dela quando ainda levava outra vida, a ruim.
Nega se virava na quadra, como se diz na gíria para prostituição. Chegava de manhãzinha em casa e Jesus saía para trabalhar. Só que ele não era assim tão do basquete, tinha dias que acordava ao meio-dia. Certa manhã, a Nega chegou cansada, com frio e quando se meteu na cama do barraco Jesus estava lá, deitado de lado. Chutou o pau da barraca. E chutou Jesus junto.
– Mas o que tu tá pensando, seu vagabundo! Eu aqui me virando toda a noite para arrumar algum dinheiro e tu aí dormindo que nem um gambá, que é isso que tu é!
E dê-lhe chute na bunda do Jesus. E nada do maridão acordar. Depois de uma olimpíada de pontapés, Nega deitou o marido de costas para mudar de estratégia.
Jesus estava mortinho da silva. Tinha morrido de infarto antes dela chegar.