Conde von Arake
Na segunda metade dos anos 1970, apareceu em Porto Alegre um italiano vendendo títulos de nobreza – a patente mais mixuruca era Comendador. O preço era exorbitante, tipo R$ 10 mil hoje. Achei que ele ia dar com os burros n’água, mas vendeu mais que pão quente, principalmente no Vale dos Sinos.
Nos anos 2000, era moda a entrega de prêmios com nome pomposo, pura picaretagem que fazia sucesso na linha me engana que eu gosto. Eram os Prêmios Tambor: bate, faz um barulho danado; fura, não tem nada por dentro.
Por um desses desvios profissionais da natureza, tive que comparecer a uma festa dessas, em jantar na Sogipa. Eram 15 os agraciados, maioria do interior gaúcho, que vinham com família, cão, sogra, empregada e vizinhos. Voltavam para as mesas abraçando aquele objeto como se o Santo Graal fosse.
Na metade da cerimônia, os promotores anunciaram um show de dança flamenca. Se algum espanhol estivesse lá se suicidava. Nem castanholas as dançarinas – na faixa do que cruelmente se chama de melhor idade – tinham, era tudo playback, soava como chocalho de cascavel. Algumas delas estavam em adiantado estado de decomposição, e o requebro flamenco parecia mais um teste para a refilmagem do filme O Exorcista.
Recomeçou a entrega. Eu tinha contado oito que foram ao palco, faltavam sete, porém mais e mais gente era chamada, passou dos 20 e tantos. Estranho. Chamei o cara do evento para um confidencial. Erraram na conta?
– Por aí, mas não bem por aí – ele piscou o olho.
Explicou: sempre havia algum amigo ou parente do homenageado que perguntava como receber o galardão, e se ele tinha custo. Ele respondia que, por acaso, estavam sobrando algumas estatuetas. Certo, mas quanto?
– Do prêmio, é zero. Mas o jantar custa R$ 5 mil.