Os cardápios da quaresma

3 mar • ArtigosNenhum comentário em Os cardápios da quaresma

Passado o Carnaval, só nos falta esperar a quaresma terminar. Aliás, é curioso para mim, como as religiões interferem na nossa mente e eu concordo sem nenhuma objeção. Mas me chama atenção como tentam fazer o mesmo com nosso paladar e com o nosso estômago.

Até meados do século passado, os católicos na quaresma comiam pouco e mal. Eles deviam jejuar e se abster de carnes, laticínios e ovos (especialmente gemas) para lembrar os 40 dias passados por Jesus no deserto antes de iniciar a pregação. Mas peixes, legumes, verduras e frutas estavam liberados, o que já demonstra que era um deserto camarada, os que eu fui, que se saiba não dão nem um pé de couve, peixes e frutos do mar? Nem pensar.

Hoje, o jejum tornou-se opcional e a abstinência ficou para a Sexta-Feira.

Católicos de alguns países, porém, souberam mitigar as proibições, sem quebrar as regras. Os italianos, por exemplo. Usando legumes, verduras, frutos do mar, peixes, amêndoas e mel, criaram receitas tão boas que acabaram incorporadas no cardápio.

A primeira lembrada: Carciofi alla Cavour. O nome homenageia o estadista que ajudou a unificar a Itália. Também pode ser Carciofi alla Torinese, numa referência à cidade de Turim, onde Cavour nasceu. São alcachofras pequenas e tenras, cozidas em água, depois polvilhadas com farinha, transferidas ao forno com manteiga e servidas com molhos variados.

Já na Espanha, uma das receitas do período é o ajo blanco, sopa fria de ascendência greco-romana, hoje típica da cozinha da Andaluzia. Leva amêndoas picadas, alho, às vezes um pouco de vinagre, pão dormido umedecido. Os ingredientes são esmagados num almofariz de pedra até formar uma pasta branca. Então incorpora-se água, sal e se bate com azeite. Os espanhóis o consideram um tipo de gaspacho (mas nunca provei).

A receita mais famosa da Quaresma, porém, não surgiu na Europa, mas na Ásia, por influência dos jesuítas de Portugal. Foi o tempurá, bastante conhecido no Brasil. Consiste em leves e crocantes frutos do mar, peixes e vegetais envoltos em polme fina e fritos em óleo muito quente. Segundo o espanhol Jacinto García, no livro Comer como Dios Manda, “a palavra tempurá é uma adaptação em japonês do termo latino, tempero. ”

Seria um derivado de tempero e virou aquele prato de camarão e vegetais levemente fritos. É bem possível hoje estes derivados do francês ou do inglês, se aportuguesaram e seguimos usando. É quase sempre assim, assumimos o nome e os objetos que não conhecemos (e outros por charme). Numa ocasião em Penang, na Malásia, dividíamos uma mesa com uns jovens malaios e na 2ª ou 3ª vez que usaram a palavra janela pedi que eles repetissem e o que queria dizer, e um deles explicou: é janela (window). Ele disse: nós não conhecíamos a palavra e quando os portugueses ocuparam a península de Penang, nós aprendemos e seguimos usando.

Penang é em frente a Sumatra e ainda tem pedras esculpidas em português, lembro de BENEFICÊNCIA portuguesa e de algo sobre um convento, mas só lembro, quem entende do assunto é o Claudio Moreno.

Flávio Del Mese

Flávio Del Mese nasceu em Caxias, mas tem quase certeza que sua cegonha passou a baixa altura e foi abatida. Isso frequentemente acontece com quem voa por lá, sejam sabiás, tucanos, corujas ou bentevis, mas não tem queixas. Foi bem recebido tanto na infância quanto na juventude, assim como em Porto Alegre, onde chegou uns 15 anos depois, já sem cegonha e a cidade o embala com carinho até hoje. E ele sabe do que fala, pois conhece 80% dos países do globo. Na Europa só não esteve na Albânia, da América só não conhece a Venezuela (prevendo quem sabe, que do jeito que vamos, em breve seremos uma Venezuela). Na Ásia, não passou pela Coréia do Norte e pelo Butão, mas à China foi 6 vezes e também 6 vezes esteve na Índia, sendo que uma delas deu a volta no país de trem, num vagão indiano, onde o até hoje, seu amigo Ashley, tinha uma licença para engatar o seu vagão atrás das composições cujos trilhos tivessem a mesma bitola. Sua incrível trajetória de vida é marcada por uma sucessão de acasos que fizeram do antigo piloto da equipe oficial VEMAG (vencedor de 5 edições de Doze Horas), em um dos fotógrafos mais internacionais do Brasil. Tem um acervo de 100 mil fotos- boa parte delas mostradas nos 49 audiovisuais de países que produziu e mostrou no Studio durante 20 anos e que são a principal vitrine do seu trabalho (inclusive o da volta na Índia de trem). Hoje dedica-se a redação e atualização dos Blogs Viajando por viajar e Puxadinho do Del Mese com postagens sete dias por semana.
Extraído de reportagem:
Ademar Vargas de Freitas
Clóvis Ott
Juarez Fonseca
Marco Ribeiro

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