Maxidesvalorização & Cia

25 ago • ArtigosNenhum comentário em Maxidesvalorização & Cia

Esta segunda-feira, 24 de agosto, dia em que lembra o suicídio do presidente Getúlio Vargas e que as cidades de Pompeia e Herculano foram soterradas pela lava do vulcão Vesúvio.  Mantendo a tradição de infaustos acontecimentos, o dia trouxe ao mundo só notícias ruins e o Brasil as tornou pior. Foi colocado como uma cereja azeda em cima do bolo, intragável, os números da Dívida Pública Federal fechados no mês de julho passado.

O total atingiu R$ 2,603 trilhões, sendo R$ 2,475 trilhões a dívida interna e R$ 128,72 bilhões a dívida externa. Houve um crescimento de 0,78% sobre o mês anterior. A razão maior foi que a dívida externa teve uma elevação de 6,14% pela desvalorização do real frente ao dólar.

Em vário artigos postados ao longo de vários anos, tenho feito uma conta bem simples sobre o que vem acontecendo desde janeiro de 2003. Vale ser repetitivo.

Em 31/12/2002, a Dívida Pública Federal era de R$ 623,19 bilhões, portanto até julho de 2015, cresceu R$ 1 trilhão e 980 bilhões, mais 317,8%.

Poucos se deram conta que a população brasileira nas mesmas datas eram, em números redondos, 176 milhões e 200 milhões de habitantes no País. Naquela ocasião a dívida per capita era de R$ 3.540,00, em relação ao mês passado passa para R$ 13.015,00, por habitante, um salto a mais de 267,6%.

O mandato da presidente começa em 1º de janeiro de 2011 com uma Dívida Pública de R$ 1,694 trilhão e cresceu R$ 909 bilhões em quatro anos e sete meses.

Nestes mais de 12 anos, façam as contas que quiserem, o país não cresceu na velocidade desta dívida.

Como também foi pouco divulgado que, os anos de bonança com o crescimento e distribuição de renda do período 2003 à 2010, foi em razão da elevação fantástica da dívida pública. E mais que os gastos tiveram baixíssimo retorno para a sociedade brasileira, basta ver o que aconteceu com a Saúde, Educação, Segurança e Transporte. Já o controle da inflação, aconteceu pela manutenção alta da taxa de juros. Nada de novo em 2015.

Para sustentar esta dívida foi preciso uma máquina arrecadadora que retirasse o máximo possível do cidadão brasileiro que afinal é quem paga essa conta. Segundo o Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário – IBPT na década de 70 eram necessários dois meses e 16 dias (76 dias) de trabalho e renda para pagar os tributos, na década de 80 passou para dois meses e 17 dias (77 dias) na década de 90 houve um salto precisava-se de três meses e 22 dias (102 dias) hoje são necessários mais de cinco meses. Como já disse no artigo anterior, Farinha pouca, meu pirão primeiro. O País não está só em recessão mas chegou ao ponto da estagflação. Resultado a arrecadação caiu.

O País foi endividado de forma acelerada nestes mais de 12 anos e no período fez com que houvesse uma euforia por maioria que não se dava conta do que estava acontecendo. O governo nada mais fez do que manter um padrão de vida acima do fruto do trabalho, fazendo “papagaios” nos bancos.

Isso já aconteceu no Brasil. Nos anos 70 do século passado tivemos aqui no país o que se chamou de “Milagre Brasileiro”.  Foram os anos de endividamento externo.

O resultado chegou na década seguinte, que foi denominada a “Década Perdida”.  Agora o endividamento é interno e está sendo sugada quase toda a poupança brasileira. Como já aconteceu, sempre chega a conta do novo milagre.

Mas, o título do artigo é sobre maxidesvalorização & Cia. A companhia descrevi acima.

A China, a fábrica do mundo, começou a patinar. A sua necessidade de importação deve diminuir, a não ser no que se refere ao setor de alimentação, grãos e carnes. Parte do milagre dos anos 2003 à 2010 foi ajudado pela mega exportações de com modities para o mercado chinês. O País não soube utilizar o período de bonança para diminuir o Custo Brasil, principalmente no que se refere a precária infraestrutura existente.

Vale recordar que em 1997 quando os famosos tigres asiáticos pararam de rugir e viraram gatinhos, que nem miavam mais, o urso russo sustentado pelo capital alemão, ficou desdentado, os países emergentes foram abalados imediatamente. O Brasil foi atingido pela Crise Asiática de 1997 e pela Moratória Russa de 1998. Buscou-se auxilio do FMI e na sequencia a desvalorização do Real frente ao dólar, que passou da banda de R$ 1,23 para R$1,85, uma variação de 50,4%.

Muitos dirão os tempos são outros, a Reservas Internacionais do País são de US$ 371,48 bilhões, e a Dívida Externa Federal pouco mais de US$ 36 bilhões. Não custa lembrar que a esta devem ser acrescentado as dívidas externas dos Estados, Municípios, das Estatais em todos os níveis, mais os empréstimos tomados pelas empresas brasileiras e instituições financeiras. Somadas, o cobertor pode ficar muito curto.

A China está deixando de ser o motor propulsor da economia mundial e a alegria dos emergentes.

Por essas e outras mais, é que as agências de risco aos poucos vêm diminuindo a nota do Brasil.

Pois bem, em 24/08/2014 o dólar estava cotado em R$ 2, 28, hoje, exatos um ano depois, foi cotado em R$ 3,553. A desvalorização do real frente ao dólar foi de 55,8%. Voltando um pouquinho no tempo, o primeiro mandato da presidente começou com a cotação do dólar em R$ 1,65. De lá para cá se paga mais R$ 1,90 por Dólar. Uma alta de mais 115,3%

Para quem ainda se lembra da palavra maxi, pode-se afirmar que o real sofreu uma maxidesvalorização. Jogaram o Plano Real na sarjeta. Estão colocando o Brasil em condição ignominiosa de decadência e humilhação.

Décio Pizzato

Economista, formado pela PUCRS, colunista do Conselho Federal de Economia (BSB [ único da região sul]).
Ex-diretor da ABAMEC-Sul (Associação Brasileira dos Analistas do Mercado de Capitais – Região Sul) hoje APIMEC-SUL.

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