Um pouco mais de Islândia

16 dez • ArtigosNenhum comentário em Um pouco mais de Islândia

Uma das artistas mais inovadoras e visionárias da música contemporânea, Björk, atravessa uma fase de radiografia pessoal. Quando estive lá é que soube, porque alguém surpreso em ver um brasuca por lá me contou que ela estava tentando incluir o Brasil em sua nova turnê, que eu nunca soube se aconteceu.

O álbum tratava de corações partidos: ela se divorciou de Matthew Barney, com quem era casada desde 2001. Diz ela: “Venho da Islândia, lá não temos uma história semelhante à da Europa. Só nos tornamos independentes há 70 anos. Não vivemos a revolução industrial, não tivemos guerras. E, de repente, nos vimos no meio da nova ordem tecnológica. Isso nos tornou mais sinceros, mais abertos”.

“O novo disco Vulnícura, é parte desse processo. Para a exposição no MoMA, reuniram coisas sobre mim que acabaram me iluminando. Busco estabelecer essa relação harmoniosa entre a natureza humana e a vida animal. É também um processo de celebração, de otimismo, de fé no futuro”.

Bem, até aqui extraí os dados de uma entrevista do New York Times. Os restantes são de apreciações minhas de uma viagem que gostei muito de fazer. O país tem vulcões permanentes, Geisers (é de lá o nome original), tempestades, geleiras e praias de areias negras. Temos sempre a ideia de um renascimento de mundo. Não é por nada que Júlio Verne colocou na Islândia a entrada da gruta que o teria levado ao centro da terra.

Hoje você vai, ou pode ir à Islândia, como você vai a qualquer lugar, mas não era assim. Ela continua lá, beirando círculo polar, mas integrada no mundo atual, seja na música, seja nos hábitos do Norte da Europa, seja pelo admirável adestramento de seus cavalos, que saem da ilha para provas, ou exposições, e não podem mais voltar, por lei.

Imagem: Dave Gilligan

Imagem: Dave Gilligan

Os cavalos que falo – sem entender de cavalos – são os “crioulos” deles, que foram levados pelos vikings há 900 anos, depois chegaram os monges que procuraram povoar a Islândia devido à energia geotérmica que aquece várias partes da ilha. Com isto trabalhavam menos, ou seja, cortavam menos lenha, levavam menos tempo para preparar a sua comida e assim tinham mais tempo para se dedicar às orações.

Mas algo foi dando errado e os monges devem ter enchido o saco de só orações e, aos poucos, foram voltando para a parte continental da Europa, de onde haviam saído. Mas deixaram os cavalos que se tornaram selvagens como os nossos crioulos e ali viveram sem nenhum apoio por quase 700 anos. Consequentemente, mais rijos, mais fortes, atarracados e com o pelo mais longo. É bem provável que, no inverno, se agrupassem perto das regiões geotermais, que são muitas, e com isso podiam continuar pastando. Com a neve que cai ali, não teriam como chegar ao pasto que fica um metro abaixo da neve. Morreriam de fome.

São, a meu ver, dignos primos dos nossos “crioulos”, dos cavalos patagônicos e exemplificados pelo Gato e o Mancha que foram criados na fazenda do Dr. Solanet, na Patagônia. E levaram em seu dorso um médico suíço do nome complicado. Saíram do sul da Argentina e foram a Nova York levando dois anos e meio, sendo reconhecidos e recompensados com uma verdadeira parada que interrompeu o trânsito em plena 5ª Avenida. Isto em 1939 ou 1940.

P.S.: Já que falamos em música, a Zero Hora publicou que o Vitor Ramil foi traduzido para o islandês e será lançado no dia 5 de março em Reykjavik. No dia seguinte, o músico e escritor fará um show na capital da Islândia. Boa Vitor, sucesso!
*Vitor, se faltar alguém para carregar a tralha é só avisar.

Flávio Del Mese

Flávio Del Mese nasceu em Caxias, mas tem quase certeza que sua cegonha passou a baixa altura e foi abatida. Isso frequentemente acontece com quem voa por lá, sejam sabiás, tucanos, corujas ou bentevis, mas não tem queixas. Foi bem recebido tanto na infância quanto na juventude, assim como em Porto Alegre, onde chegou uns 15 anos depois, já sem cegonha e a cidade o embala com carinho até hoje. E ele sabe do que fala, pois conhece 80% dos países do globo. Na Europa só não esteve na Albânia, da América só não conhece a Venezuela (prevendo quem sabe, que do jeito que vamos, em breve seremos uma Venezuela). Na Ásia, não passou pela Coréia do Norte e pelo Butão, mas à China foi 6 vezes e também 6 vezes esteve na Índia, sendo que uma delas deu a volta no país de trem, num vagão indiano, onde o até hoje, seu amigo Ashley, tinha uma licença para engatar o seu vagão atrás das composições cujos trilhos tivessem a mesma bitola. Sua incrível trajetória de vida é marcada por uma sucessão de acasos que fizeram do antigo piloto da equipe oficial VEMAG (vencedor de 5 edições de Doze Horas), em um dos fotógrafos mais internacionais do Brasil. Tem um acervo de 100 mil fotos- boa parte delas mostradas nos 49 audiovisuais de países que produziu e mostrou no Studio durante 20 anos e que são a principal vitrine do seu trabalho (inclusive o da volta na Índia de trem). Hoje dedica-se a redação e atualização dos Blogs Viajando por viajar e Puxadinho do Del Mese com postagens sete dias por semana.
Extraído de reportagem:
Ademar Vargas de Freitas
Clóvis Ott
Juarez Fonseca
Marco Ribeiro

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