O bolo assassino
Antes que o Natal chegue, vou esclarecer de uma vez por todas essa lenda urbana de que eu não gosto de panetone. Começou com o blogueiro José Luiz Prévidi, que assacou contra minha honra contando em seu blog o que eu já tinha escrito aqui. Num certo dia 24 de dezembro, acordei disposto a fazer o bem sem olhar a quem. Vi um mendigo que dormia ao lado do meu prédio e disse a ele que eu era o Ebenezer Scrooge do Bem, aquele personagem do Dickens que deixou de ser sovina embora eu não o fosse. O que o cabra queria de Natal, dinheiro, comida, roupa?
– Qualquer coisa, doutor, menos panetone. Toda vizinhança me dá um e estou farto dele.
Coitado. Imaginei que tinha tanto panetone estocado que daria para os próximos dois ou três anos. Como eu também ganhava muitos, identifiquei-me logo com aquela pobre alma. Cheguei a pensar em doar esses bolinhos borrachentos para a Concepa, para usar na Free Way. Asfalto tipo panetone, não precisa nem usinar, como pneu. Deve durar anos, tenho certeza. É muito mais barato que asfalto clássico feito com piche da Petrobras. E não entra água, é impermeável igual à restauração de dente.
Ganhei tanto panetone que fiz um acordo com a dona de uma confeitaria perto de casa: para cada três dessas peçonhas que dava, recebia uma cuca.
Aliás…
…por que os gaúchos não se presenteiam com cucas no Natal em vez dessa invenção italiana é um mistério. Talvez Complexo de Guaipeca.