Nós, os carecas
Careca que se preze assume sua condição e não usa peruca, embora muita gente opte por usar este estepe capilar. Em alguns casos, fica ridículo, porque a peruca é tão bem feita que está na cara – ou na cabeça – que é uma falsa cabeleira.
Alguns ainda cometem o exagero de passar algum fixador na falsidade. Aí é de doer. Um dos frequentadores bissextos da Mesa Um do Bar Pelotense usava uma peruca no capricho. Só quem o conhecia bem sabia que debaixo daquela cabelama toda havia um reluzente crânio, com cobertura menor que a de uma bola de bilhar. Quando ele entrava no bar, o doutor Zeca Coronel sempre cochichava no ouvido de alguém.
– É peruca importada. Tem até caspa.
Certa tarde, o advogado Jorge Ely e um amigo de poucas letras, que fora lhe dar uma mordida, saíram do restaurante Dona Maria rumo ao escritório do primeiro. O Ely não sabia dizer não. Na Rua da Praia, Ely encontrou um ex-ministro do governo chamado Leitão. Cumprimentou-o com o respeito que a figura merecia e, a seguir, apresentou-o ao amigo.
– Prazer, Osvardo.
– Prazer, Leitão.
“Osvardo” olhou bem o jurista, com um impecável terno preto salpicado de caspa nos ombros.
– Leitão, é?
Então começou a limpar com a mão a neve acumulada nos ombros do recém-apresentado.
– Mas com farofa…
Ely queria matar o sujeito. E, desta vez, ele aprendeu a dizer não.