Nós, os carecas

23 out • A Vida como ela foiNenhum comentário em Nós, os carecas

 Careca que se preze assume sua condição e não usa peruca, embora muita gente opte por usar este estepe capilar. Em alguns casos, fica ridículo, porque a peruca é tão bem feita que está na cara – ou na cabeça – que é uma falsa cabeleira.

 Alguns ainda cometem o exagero de passar algum fixador na falsidade. Aí é de doer. Um dos frequentadores bissextos da Mesa Um do Bar Pelotense usava uma peruca no capricho. Só quem o conhecia bem sabia que debaixo daquela cabelama toda havia um reluzente crânio, com cobertura menor que a de uma bola de bilhar. Quando ele entrava no bar, o doutor Zeca Coronel sempre cochichava no ouvido de alguém.

 – É peruca importada. Tem até caspa.

 Certa tarde, o advogado Jorge Ely e um amigo de poucas letras, que fora lhe dar uma mordida, saíram do restaurante Dona Maria rumo ao escritório do primeiro. O Ely não sabia dizer não. Na Rua da Praia, Ely encontrou um ex-ministro do governo chamado Leitão. Cumprimentou-o com o respeito que a figura merecia e, a seguir, apresentou-o ao amigo.

 – Prazer, Osvardo.

 – Prazer, Leitão.

 “Osvardo” olhou bem o jurista, com um impecável terno preto salpicado de caspa nos ombros.

 – Leitão, é?

 Então começou a limpar com a mão a neve acumulada nos ombros do recém-apresentado.

 – Mas com farofa…

 Ely queria matar o sujeito. E, desta vez, ele aprendeu a dizer não.

Fernando Albrecht é jornalista e atua como editor da página 3 do Jornal do Comércio. Foi comentarista do Jornal Gente, da Rádio Band, editor da página 3 da Zero Hora, repórter policial, editor de economia, editor de Nacional, pauteiro, produtor do primeiro programa de agropecuária da televisão brasileira, o Campo e Lavoura, e do pioneiro no Sul de programa sobre o mercado acionário, o Pregão, na TV Gaúcha, além de incursões na área executiva e publicitário.

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