No tempo do preguinho

28 set • A Vida como ela foiNenhum comentário em No tempo do preguinho

 Não lembro exatamente da primeira Coca-Cola que bebi, mas deve ter sido pelos seis ou sete anos. Meu pai tinha um armazém de “secos & molhados” em São Vendelino, uma prensa de alfafa onde quebrei meu pé, vendia tecidos, pão, biscoitos, linguiça, querosene para lampião, cigarros e charutos. Eu era um privilegiado. Casa de colono não tinha Coca-Cola. Quando muito, o xarope Springer, de São Leopoldo RS, com sabores vários, que, misturado com água, dava um refrigerante razoável, mas sem gás. Era outra coisa que meu pai vendia

 Coca só em dias muito especiais. Não havia Coca litro, nem meio. Apenas a garrafinha de 310 ml. Lembro que a bebida era tão sagrada que tínhamos um macete para que ela durasse: um furo feito com prego bem fino na tampinha. Durava horas, golinho por golinho sorvido pelo furinho. Já adolescente, bebia Coca, guaraná ou gasosa feita com gengibre, limão e uma pedra chamada verderama, em alemão spritzbier sem álcool, mas só aos domingos, e olhe lá. Não tinha conservantes, então não dava para mexer muito a garrafa que ela explodia.

 Um dia, fui inundado por um tsunami de Coca-Cola. Já grandote, no ginásio, fui ao aniversário de um colega chamado Pedro Artur Ody. Doces, torta e Coca. O espertinho aqui achou que ela poderia ser mais doce. Então, peguei uma colher com açúcar e botei na garrafa. Você sabem o que acontece, de repente o líquido ficou uma espuma marrom e subiu mais rápido que foguete de São João.

 No desespero, e para não pagar mico e estragar o lindo assoalho envernizado de dona Evinha, botei a garrafa na boca e tentei engolir o que me parecia ser as Sete Quedas. Tentei, porque saiu espuma de Coca pelo nariz, cantos da boca e acho que até pela orelha. Para piorar, alguém achou que eu estava tendo uma convulsão.

 No tempo do preguinho, essa tragédia não teria acontecido.

Imagem de internet

Fernando Albrecht é jornalista e atua como editor da página 3 do Jornal do Comércio. Foi comentarista do Jornal Gente, da Rádio Band, editor da página 3 da Zero Hora, repórter policial, editor de economia, editor de Nacional, pauteiro, produtor do primeiro programa de agropecuária da televisão brasileira, o Campo e Lavoura, e do pioneiro no Sul de programa sobre o mercado acionário, o Pregão, na TV Gaúcha, além de incursões na área executiva e publicitário.

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