O pinto cortado
Rogéria, autoproclamada “O travesti da família brasileira”, faleceu aos 74 anos. Famosa, desbocada, mas sincera, ganhou seu lugar ao sol e desbravou o universo gay. A turma LGTB devia erguer uma estátua para ela. Ela e Agildo Ribeiro, um dos melhores comediantes que este país teve (acho que está aposentado), fizeram um show nos anos 1970, que foi sucesso no Brasil inteiro, o Alta Rotatividade. Em Porto Alegre, foi no Cine Teatro Presidente, na Benjamin Constant.
Astolfo Barroso Pinto nunca desapareceu de todo. Mais ou menos na época em que a transformista fez o show em Porto Alegre, um entrevistar de televisão perguntou se ela era uma mulher completa, pergunta feita com certo receio.
– Negativo, meu amor. Eu tinha dois pintos e cortei um fora, mas não esse que você está pensando.
Fosse em gíria policial, ela poderia ter dito “positivo e operante”.
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