Chorinhos e chorões
Faleceu, aos 72 anos, o violonista Mário Barros, que era um dos melhores violões 7 cordas que a Capital conheceu. Também era um virtuose na música erudita. Nos anos 1970, Mário era um dos artistas que davam canja no lendário Adelaide’s Bar, da rua Marechal Floriano. Ele, Lupicínio, Johnson, Clio do Cavaquinho, Plauto da Flauta, Marino do Sax e tantos outros ases seresteiros e chorões.
Eu ia bastante no Adelaide’s Bar, que começou com um barzinho despretensioso e, com o correr dos anos, se transformou no lugar mais cult de Porto Alegre. Conheci Adelaide sem o bar, por volta de 1967. Em 1972, ela abriu o estabelecimento, que não tinha nenhum atrativo, com poucas mesas. Era apenas mais um. Durante anos, nunca mais fui lá. Um ano antes de casar, ouvi falar nela, e falatório do bom. Todos os ases da MPB/Seresta estavam lá todas as noites. Ocupavam uma mesa e se revezavam conforme os compromissos de cada um, mas o núcleo do reator se encontrava ali. E já era um bar de respeito.
Cansei de me deslumbrar com a cantoria e com o clima do lugar. Além da música, você curtia as histórias contadas pelos artistas e amigos dos artistas, eu entre eles. Meu tipo inesquecível era o Clio do Cavaquinho. A Adelaide, já falecida, ganhou muito dinheiro e mais tarde abriu o Chão de Estrelas, na rua José do Patrocínio, Cidade Baixa. Também teve seu tempo. Mas como Porto Alegre funciona por ondas, ambos começaram a morrer de morte morrida.
Já nos anos 1980, Adelaide ainda tentou manter acesa a chama e abriu bar com mesmo nome na Vigário José Inácio, quase esquina com a Salgado Filho. Mas não era mais a mesma coisa. A história não se repete, e os bares famosos também não. Eles só morrem uma vez, não ressuscitam. Nada de música, só um ectoplasma dos tempos mais gloriosos.
De certa forma, foi aí que começou a decadência do Centro Histórico da Capital gaúcha.