Eu e o bauru

31 ago • A Vida como ela foiNenhum comentário em Eu e o bauru

 O bauru, tal como o conhecemos, é mais um alimento cuja criação se perde nas brumas do tempo. Como o sanduíche aberto, é só palpitar sobre o pai da criança, que vem dúzias de contestações. O galeto também, o galeto ao modo gaúcho, bem entendido, frango, massa, polenta e acompanhamentos. Certa vez, embrenhei-me nesse mato cerrado e saí dele todo lanhado. É como o churrasco, que os gaúchos xiitas acham que é coisa nossa. O primeiro assado foi quando ainda vivíamos nas árvores ou nas cavernas. O primeiro raio que caiu sobre um animal comido pelos humanos foi também o primeiro churrasco.

 Com o auxílio de fontes primárias, descobri que o bauru teve origem no Bar Brahma, na esquina das avenidas Ipiranga e São João, em princípio nada a ver com a cidade paulista. Cheguei a conhecê-lo de relancina, início dos anos 1970. A técnica era simples: um belo bife no pão, que era encharcado com queijo derretido em uma panela sempre no ponto. Sem os acréscimo que hoje botam nele, molhos, alface, tomate. Simples e gostoso.

 Porto Alegre foi a cidade do bauru a partir do final dos anos 1960 até o surgimento do hambúrguer. Nas casas marca diabo usam carne de pobre – guisadinho amassado como se fosse bolo de carne – e queijo, quando não pré-pronto, que derrete mal e tem de tudo menos leite na sua fabricação. Os melhores, que vêm se multiplicando na cidade, renegaram a paternidade com suas pompas e obras, como se Satanás fosse, e partiram para a carreira solo.

 O bauru é um bom bife macio feito na chapa, de preferência sem óleo ou com pouco, um bom queijo do ramo, pão e estamos conversados. Cada um com suas preferências, mas eu me contento com cebola roxa e tomate, e só. Agora, tem um problema: se no cardápio da casa está escrito que queijo extra custa X, caio fora. É uma indignidade. Como na pizza. O queijo extra já deveria estar na versão de entrada. Só consumidor pouco exigente, que é o caso do gaúcho – não protesta. Se fôssemos um coro uníssono, ninguém aprontaria esse golpe.

 O melhor que eu já comi? Foi no Centro Esportivo, na Benjamin Constant, perto da esquina com a Cristóvão. A carne era lombo de porco, pão de sanduíche especial em três fatias crocante na medida certa, e queijo de ganhar prêmio. Não, não, não, nada de queijos sofisticados, apenas um bom queijo colonial.

 O Esportivo fechou há muito tempo. SE eu for para o paraíso, vou pedir que o reabram só para quando eu quiser um, de comer ajoelhado. Faz sentido, afinal eu estarei no paraíso.

Fernando Albrecht é jornalista e atua como editor da página 3 do Jornal do Comércio. Foi comentarista do Jornal Gente, da Rádio Band, editor da página 3 da Zero Hora, repórter policial, editor de economia, editor de Nacional, pauteiro, produtor do primeiro programa de agropecuária da televisão brasileira, o Campo e Lavoura, e do pioneiro no Sul de programa sobre o mercado acionário, o Pregão, na TV Gaúcha, além de incursões na área executiva e publicitário.

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