O Caju Amigo

9 ago • A Vida como ela foiNenhum comentário em O Caju Amigo

 O nome era Clube Nordestino. Que eu saiba, nordestinos só iam lá no Carnaval, algumas famílias que festejavam o tríduo momesco em um reservado nos fundo. No resto do ano era apenas um bar com espaço para duas mesas de mini snooker, cujo pano verde tinha mais crateras do que a Lua. Bebia-se e comia-se um PF miserável junto ao balcão ou sentado em uma das três ou quatro mesas pequenas. Ficava na 7 de Setembro, Centro de Porto Alegre, defronte ao prédio antigo que abrigava a redação da Zero Hora, onde hoje é o prédio do antigo Banco Maisonnave. Tornou-se a primeira parada quando os repórteres e editores terminavam o trabalho.

 Era um sobrado, vizinho de vários outros, comum na área central. Derrubaram todos e, cada um que caía, era um pontaço no coração da Porto Alegre antiga. Volta e meia o Nordestino retorna ao’s meus sonhos. O ecônomo ou coisa que o valha chamava-se Légui. Muitas histórias alegres e tristes tiveram o bar do Nordestino como testemunha, mas também servia de ponto de partida para outras incursões noturnas. Muitos jornalistas de outros jornais ali perto, como o Correio do Povo e Folha da Tarde, também iam lá para molhar as palavras.

 Bebidas só tinha de dois tipos. A eterna cerveja e dois drinques, se aquela mistura podia ser assim chamada. Na real, cachaça com suco e polpa de caju ou de maracujá. O primeiro era chamado de Caju Amigo. Era a única coisa nordestina, no fim das contas. Os dois matavam, especialmente o caju. Meio adocicado, como sabem ser essas misturebas assassinas, descia bem, no início, mas a ressaca era algo monumental. No dia seguinte, era como ter todos os sinos da Catedral dentro da cabeça.

 Culpa da cachaça, sentenciava o sábio motorista Luismar. Não, rebatia o Careca, fotógrafo da Folha da Tarde, é o caju o culpado. Houve uma terceira opinião, acho que do Betinho Bironha, da ZH: se a cachaça sozinha não dá essa ressaca toda e o caju também não, só pode ser a química resultante da mistura.

 Nem por isso paramos de beber o Caju Amigo.

Fernando Albrecht é jornalista e atua como editor da página 3 do Jornal do Comércio. Foi comentarista do Jornal Gente, da Rádio Band, editor da página 3 da Zero Hora, repórter policial, editor de economia, editor de Nacional, pauteiro, produtor do primeiro programa de agropecuária da televisão brasileira, o Campo e Lavoura, e do pioneiro no Sul de programa sobre o mercado acionário, o Pregão, na TV Gaúcha, além de incursões na área executiva e publicitário.

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