O repelente
O Irmão Afonso, de alcunha Ratinho, foi um dos meus carrascos durante o curso ginasial, hoje Ensino Médio. Ruim como carne de cobra, o marista não perdia oportunidade para castigar seus pupilos por qualquer desobediência ou mesmo coisa simples como a genérica falta de atenção. Não lembro o que aprontei, mas o roedor me botou de castigo atrás do quadro negro. Revoltado, peguei um giz e escrevi “O irmão Afonso é um ratinho”, e escrevi ao contrário para que se pudesse ler o escrito. Imaginava que isso só aconteceria de vez em quando. Mas não.
Mal tinha escrito a papagaiada e limpado as mãos do pó comprometedor, o professor vira o quadro giratório e toda a classe viu, risinhos abafados pela prudência. Resultado: Nota Zero em educação por um mês inteiro. Meus pais adoraram ver o filho rumando para ser um criminoso antissocial.
Decidi ficar de bico calado. Mas vocês já viram galinha renegar milho? Algum tempo depois, o Irmão Ratinho falava sobre o sexo pecaminoso que levaria todos nós ao inferno. Deu especial atenção aos cartazes dos filmes que mostravam mulheres em poses provocantes.
– Evitem esse chamariz repelente do sexo!
Não resisti.
– Irmão Ra…Afonso, o senhor precisa se decidir: ou é chamariz ou é repelente.
Eu e minha boca grande. Duas horas por dia durante uma semana em posição de sentido de cara para a parede do pátio.