O Betting das lavadeiras

10 jul • ArtigosNenhum comentário em O Betting das lavadeiras

 Esses dias, deparei com o número 111 numa imagem na Internet e este simples fato me remeteu à década de 50, século passado, quando, ainda muito jovem, comecei a frequentar o Hipódromo dos Moinhos de Vento, em Porto Alegre. Abrindo um pequeno parêntese, é interessante relembrar que, final do século 19, início do século 20, Porto Alegre contava com quatro hipódromos regularmente funcionando: Boa Vista, Riograndense, Navegantes e Independência (Moinhos de Vento). Atualmente, Porto Alegre conta com o Hipódromo do Cristal.

 Do pradinho da Independência, hoje transformado numa imponente praça (Parcão), restam as agradáveis lembranças dos craques que ali atuaram. Destaque para Estensoro, o melhor cavalo de todos os tempos, dos jóqueis Antonio Ricardo, Mário Rossano, José Fagundes, Clóvis Dutra, Roberto Arede, Oraci Cardoso e tantos outros. Suas vitórias e seus recordes, suas tantas alegrias e tristezas, foram substituídas, hoje, por um público ávido na condição física ao praticar o seu jogging, nem imaginando que, aquele mesmo, mesmíssimo local, há 58 anos era o palco de tantas e tantas emoções, visita obrigatória de políticos famosos e das mulheres mais charmosas da cidade, com seus vestidos e chapéus exuberantes e multicores, nos Grandes Prêmios que ali eram realizados.

 Um dos tantos atrativos das tardes turfísticas daquela época era o desafio de acertar os vencedores dos 3º. 4º. e 5º. páreos, aposta conhecida por Betting pequeno, ao custo de 5 cruzeiros (moeda à época), ou os três últimos páreos, 6º. 7º. e 8º. – o Betting grande – este custando 10 cruzeiros. O público adorava estes dois concursos e, mesmo aqueles que não os acertavam, se misturavam aos ganhadores junto aos guichês onde era feita a demorada conferência manual (computador, nem pensar naquela época!) ansiosos em saber quantos eram os felizardos e o valor do prêmio a ser distribuído.

 Considerando que, normalmente, os números 1 eram os mais prováveis ganhadores dos páreos, quando ocorria a vitória de três deles, formando o Betting 111, criava um clima de euforia geral e contagiante, pela ocorrência de um grande número de acertadores e, em consequência, um rateio bastante baixo. Quando isso acontecia, o comentário geral – e, algumas vezes, até a manchete dos jornais do dia seguinte – era que acontecera o “Betting das Lavadeiras”, numa clara alusão ao baixíssimo valor cobrado por aquelas humildes senhoras que iam de casa em casa, buscando as roupas para serem lavadas e as entregavam, dias depois, impecavelmente limpas e engomadas.

 Aproveito para homenagear à todas elas, na pessoa da saudosa Dona Ambrósia, que atendia lá em casa.

Davi Castiel Menda

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