A maldição do pinheiral
Tudo que eu gosto de comer apresenta diversos graus de dificuldade até que chegue na minha boca. Foi assim com os pinhões que a presidente da Fundação Fernando Albrecht cozinhou para mim antes de viajar. Na minha ignorância, deixou a panela na geladeira. Alguém devia ter me dito que pinhão frio é difícil de abrir. Parto de pinhão é um parto.
Cada desses frutos da araucaria brasiliensis contém tanto ferro que pode interessar até a siderúrgica do seu Jorge. E cada um contém 22 calorias, portanto, senhoras, ele engorda. Retomando a história: levei um saco plástico cheio deles para a redação. Para abrir o primeiro, levei 10 minutos usando uma faca homicida; nos seguintes, levei metade do tempo. Parei lá pelas tantas porque precisaria a tarde inteira para comê-los todos.
Certa vez, ganhei de presente uma engenhoca de madeira para abrir pinhão. Na realidade, mais esmagava que abria, mas quebrava o galho, embora fizesse uma sujeirada – já viram como ficam as unhas depois de abrir alguns? Enfim, em algum momento da criação, o nosso pinheiro nativo lançou uma praga, tornando seus frutos mais difíceis de abrir que caixa preta de seguradora.
A maldição bíblica do Adão está errada. Comerás o pão com o suor do teu rosto foi liberdade poética. O certo é comerás o teu pinhão a duras penas. Não tem como ser feliz neste mundo de Deus. Se a melancia ainda nascesse com alça…