A conserva de cobra 

19 maio • A Vida como ela foiNenhum comentário em A conserva de cobra 

 E momentos como este que vivemos desfaço-me de pensamentos lúgubres e coloco algumas boas lembranças no lugar, lembranças que me fazem sorrir quando as recordo. Uma delas é a do Bar Arthur, cujo prédio ainda existe, na Alberto Bins, a uma dezena de metros do Viaduto da Conceição à direita para quem vai ao Centro. Um fenômeno de bar chope, pequeno, três ambientes minúsculos com sete ou oito mesas idem. O bar é dos anos 1920 e perderam-se nas brumas do tempo a sucessão de proprietários. O mais famoso era o seu Helmuth Klein, ajudado pela sua irmã, a Margô.

 O sanduíche aberto era fenomenal, mas não só dele que se vive. Serviam pratos alemães que estão desaparecendo, como o sültzen (uma forma de gelatina de porco com lascas de pernil). Assisti a embates lendários entre frequentadores como o desembargador Telmo Jobim, uma grande figura, e o ministro do STJ João Cézar Krieger, que eram muito amigos.

 Logo depois da entrada, um pequeno balcão separava a plebe rude e a Margô, em cima do qual ficavam vidros de ovos em conserva e rolmops, aqueles peixes em conserva de vinagre e finas ervas, enrolados em camadas a partir das laterais do vidro e preenchendo too o espaço depois. Pois um vereador da cidade, C.G, um dia me disse que o Artur servia “conserva de cobra”, jurando que nunca comeria aquela droga. Custei a entender, mas ele se referia ao inocente rolmops, o brilho das escamas dos peixes era vagamente parecido com uma cobra prateada.

 Um pouco adiante, dobrando a rua da Conceição, um alemão de Estrela tocava uma lancheria/churrascaria, que sempre regurgitava de gente. Nos domingos de manhã, mais cedo, a freguesia jogava pelada em um trecho pequeno de calçada larga, ou em um minigramado em frente à Rodoviária, mais adiante.

 Um dia perguntei ao dono se os dois “estádios” tinham nome. E ele, muito sério, disse que tinham sim. Pela ordem: o Monumental da Conceição e o Colosso da Rodoviária.

Fernando Albrecht é jornalista e atua como editor da página 3 do Jornal do Comércio. Foi comentarista do Jornal Gente, da Rádio Band, editor da página 3 da Zero Hora, repórter policial, editor de economia, editor de Nacional, pauteiro, produtor do primeiro programa de agropecuária da televisão brasileira, o Campo e Lavoura, e do pioneiro no Sul de programa sobre o mercado acionário, o Pregão, na TV Gaúcha, além de incursões na área executiva e publicitário.

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