• Muita batalha, pouca munição

    Publicado por: • 8 jul • Publicado em: A Vida como ela foi

    Nos tempos em que o Carmen’s Club, ou simplesmente a Tia Carmen, reinava nas casas noturnas de Porto Alegre, três amigos cujas caravelas já estavam prestes a dobrar o Cabo da Boa Esperança, se encontraram no início da noite em uma cafeteria próxima ao casarão do sexo da rua Olavo Bilac, na Cidade Baixa de Porto Alegre. Um deles tomou a palavra.

    – Sabem que estou com uma vontade danada de conhecer a Tia. Nunca fui lá. Me contaram que tem uma mulherada de cinema.

    O segundo meneou a cabeça, concordando.

    – Eu estive lá há mais de 20 anos e gostaria de dar uma olhada, talvez um pouco mais que isso

    O terceiro, que estava absorto mirando com dificuldade a chícara para colocar as gotas do adoçante, ergueu olhos.

    – Ok, mas o que nós vamos fazer lá?

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  • Limite de segurança

    Publicado por: • 8 jul • Publicado em: Caso do Dia, Notas

    O povo, o tão falado povo, que só poucos políticos conhecem, está como corda de violino esticada para o grande concerto Isolamento em Ré Maior. De tão esticada, um apertozinho a mais nas cravelhas e lá se foi o boi com corda e tudo. Então é como água morro abaixo e fogo morro acima, ninguém segura.

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    E OS OUTROS?

    É essa a pergunta que o povo faz. Ao ver castas privilegiadas, a Turma da Geladeira Cheia, deitar cátedra sobre o rigor que se faz necessário, passa do estágio da aceitação para o da revolta em um upa. E não estou me referindo ao governador Eduardo Leite nem ao prefeito Nelson Marchezan Jr. Refiro-me aos que menosprezam a aflição e desespero dos Sem-Trabalho e da Geladeira Vazia em nome do vírus.

    Um médico afamado deu entrevista à ZH dizendo que isso de dizer que tem gente morrendo de fome é “besteira”. Ainda não, talvez. Mas que aumenta cada vez mais a massa dos subnutridos, crianças principalmente, ninguém pode negar.

    Se não morrem, provisoriamente, passam fome, doutor, muita fome. E isso não é besteira. De qualquer maneira, pegue um caminhão de som e vá até uma favela ou mesmo em bairro de pessoas de baixa renda e diga isso ao microfone.

    A FALÊNCIA DAS ELITES

    As elites brasileiras sempre foram falhas, miseravelmente falhas. Sempre mantiveram anéis e dedos. Sempre obedecem à lógica Mateus, primeiro os meus. Nunca entregaram nem mesmo bijuteria. Dai advém a arrogância.

    AS ESCOLHAS DO NOJENTO

    O bairro com  maior incidência de infectados é Petrópolis, com 144 casos, seguido do Sarandi, com 129, e o Centro Histórico com 110. O primeiro tem classe alta e média, o segundo abriga mais a população de baixa renda, enquanto o Centro é uma colcha de retalhos. Em comum, os três têm o fato de ter alta densidade populacional.

    Ocorre que até isso pode estar distorcido. Não sabemos o total da população destas três regiões.

    AMIGÃO

    Nestes dias em que boa parte da população vive em estado de penúria emocional, há que se sacar dos velhos e bons amigos. Nunca eles foram tão necessários. Já foram escritas mais definições sobre amizade que leis e decretos, mas ainda acho que a melhor é do escritor e filósofo norte-americano Ralph Waldo Emerson:

    Amigo é aquele que diante de quem  podemos pensar em voz alta.

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  • Pensamento do Dias

    Publicado por: • 8 jul • Publicado em: Caso do Dia

    Para quem está com o burro na sombra, todo problema é bom.

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  • A valsa do bigode

    Publicado por: • 7 jul • Publicado em: A Vida como ela foi

    Algumas semanas antes de morrer aos 91 anos, minha mãe contou que passou a ter lembranças esquecidas há dácadas. Via episódios com tanta nitidez que podia descrever o cenário, os diálogos e até os cheiros. Na última vez que a visitei em um abrigo de freiras, ela narrou um fato extraordinário, acontecido quando estava na casa dos 20 e poucos anos, final da década de 1920.

    Meu pai tinha um armazém em São Vendelino, e para fazer negócios, era preciso ir longe por todo o Vale do Caí, não raro para rincões nas bibocas do fim do mundo, de preferência em festas que reuniam muita gente. Matança de porcos era uma delas. Pois foi lá pelas bandas do Morro Tico-Tico, na altura de Bom Princípio, a festa ia bem até que apareceu um desafeto do pai, sujeito de maus bofes. Entre uma agressão verbal e outra, mostrava um revólver preso na cintura.

    Temendo o pior, um agregado do pai se postou entre os dois, ao tempo em que desafiou o inimigo com uma frase que, na tradução, era essa.

    – Vou dançar uma valsa na frente do teu bigode!

    Era uma provocação comum naquele tempo. Tão logo disparou a última vogal, o sujeito sacou do revólver e disparou. Morreu defendendo teu pai, disse minha mãe com lágrimas nos olhos. Então quando alguém fala no faroeste americano, sempre lembro dessa história.

    Nós também tivemos o nosso.

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  • Tristeza

    Publicado por: • 7 jul • Publicado em: Caso do Dia, Notas

    Os tempos do reinado do Nojento são tão tristes que nem mesmo em um ombro amigo se pode chorar.
    Imagem: Freepik

    Estranha civilização

    Bem para lá do futuro, os arqueólogos que estudarem usos e costumes da antiguidade no ano de 2020, vão ficar intrigados com uma constatação. Boa parte dos casacos e camisas estavam puídos na altura dos cotovelos.

    O país da Dercy

    Há 50 anos, o ex-governador e deputado do Rio de Janeiro Carlos Lacerda estava preso na Fortaleza de Santa Cruz, no Rio, e fazia greve de fome. Já passava mal, mas não desistia. Seu médico lhe disse: “Carlos, hoje é feriado, a praia está lotada, ninguém vai perceber se você morrer hoje. Você quer ser Shakespeare no país da Dercy Gonçalves”. Lacerda voltou a comer. Essa boa história foi contada pelo jornalista Carlos  Brickmann, do blog www.chumbogordo.com.br/

    O temível Lacerda I

    De Lacerda pode-se dizer tudo, que colaborou e depois rompeu com os militares em 1964, que foi bom governador e bom deputado, coisa rara no mundo parlamentar, entre outras qualidades e defeitos. O seu grande diferencial era a oratória. Língua mais afiada que espada japonesa, não perdia chance  para decapitar oponentes. Certa vez, seu discurso foi aparteado por quem ele atacava.

    – O que vossa excelência fala entra em meu ouvido e sai pelo outro.

    – Impossível – respondeu Lacerda. – O som não se propaga no vácuo.

    Tinhoso como ele só, serviu de inspiração para uma praga de minúsculos insetos que infestaram as praças, parques e árvores das cidades gaúchas em 1965. Penetravam nas roupas só de passar perto de vegetais, causavam irritações e coceira, entravam nos ouvidos e era difícil se ver livre deles. Por combustão espontânea, o povo passou a chamá-los de “lacerdinha”.

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    Capital do sapo

    Brasília é conhecida pela baixa umidade relativa do ar, mas em alguns ministérios parece que ela é bem alta, a ponto de ser cemitério de sapo. Caso do MEC, que procura o quarto titular desde a posse de Bolsonaro.

    Mora na filosofia

    Pelo que entendi, se tivéssemos leitos de UTI em quantidade, o isolamento e o tudo fechado poderia ser relativizados, é isso? Em São Paulo, por exemplo,  bares, restaurantes e salões já podem funcionar.

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